Basta uma ficção, alguma obra de arte ou mesmo uma canção e quem você é retorna a ti mesmo. Parece um pulso mágico, um salve da maldita luz do fim.
Desperta de sono intranquilo sonhando abraço quente e o cheiro matinal de todo bom dia... Lacrimejo imersa em um abraço de chuveiro morno não apenas lavar a cara, é como cair realidade na cabeça.
Ontem noite chuvosa, lua luz pálida, tão pálida quanto minha própria vida. E apenas essa lembrança dói mais que a lágrima de agora.
Eu tenho me visto completamente. Mente nua, absorta em meus pensamentos, só o barulho fora da janela fechada retorna a decisão de ordem. Difícil escolha jogar o velho fora, abrir as gavetas e esvaziar potes, adquirir algo, não é somente fazê-la. É refletir o lugar de cada coisa. Assim me viro e reviro na cama espaçosamente fria tentando encontrar os pensamentos que não são meus e os libertar. Chuva e lágrimas noturna... é preciso tanta água?
Abri a janela, deixei-me ser convidada pelo vento e nem ao menos agora devo aceitar chuva adentro passos afora. Lá onde é casa faz frio e neblima embaça os óculos cansados. Alfinetes não doem. Vudu na vida não pode ser. Não faço mais coleções. Já joguei fora os vícios todos de ser infeliz.
É a saudade companheira velha. Honesta e contínua parece mais vulcão dormente. Explode mas faz nascer. O rastro é de destruir e a consequencia paciente é fértil. É outra manhã.
Palavra mais silenciosa que meu grito é esse soluço infantil de quem acorrenta a alma. Sinto cadeados e algemas em minha mente. Quase tudo em mim exije involuntariamente senhas e sorrisos.
Me senti agradável como a árvore resistindo à ventania. Não era formiga dessa vez, era eu simplesmente folha presa no galho. Vai e vai...
-Não caia, não caia. Mentalizava sendo espectador e sendo folha.
Me dei permissão à uma busca calma e complexa. Abri elegantemente a porta da rua, respirando poeira e me desviando dos carros, interrompi meus pensamentos e os deleguei férias. Fui ser folha. Ainda me sinto presa ao galho, mas quer saber? É o que me mantém árvore.
Agora, me recordo de quem fui hoje e me entristeço. Fui buscar alguém que não sou mais e faltava voltar para casa e sentir que a cama ainda é fria e intacta. E doeu mais o jantar solitário à luz de velas, a intenção desperdiçada, o silêncio de toda ausência. Nem ao menos chuva derrama sobre a Terra para eu me molhar e me cobrir de essência.
Transeunte no lugar que não quero estar, neguei sorriso, simpatia, paciência. Educada e arrogante pesquisei pessoas. Cabelos falsos, cores desbotadas, relações pueris, complexidades tolas e complicações do simples... parei pensar.
Faminta, entediada e carregando uma promessa de embriaguês parei para um café às 15h na tarde. O sábado cinza poderia ser aquarela de possibilidades, mas eu só gostaria de não estar sozinha. O sabor meio-amargo daquele café expresso é mais verídico que a xícara que o serviu e o pires que a aparou. O retorno à cama me torturou naquele instante entre pagar a conta e não quebrar a garrafa. E por um último segundo desejei ser nuvem. Iria cair sobre árvores e desgrudaria todas as suas folhas. Visualizei-me deitada sobre a terra úmida, senti-me amarelar com o tempo e voar permanente até ser pó, ser húmus fazer brotar semente vindoura. Quem sabe novas, árvore, ventania e chuva arranquem de mim alguma novidade.
O fim é cotidiano. E eu só posso ser folha.
Entre aqui e alí vou me desprendendo. Com leveza para pensar e me interessar por tudo.
Passeando pela vida, Helena encontrou árvores que lhe dão mais ouvidos e traz mais paz e silêncio do que se pensou ter um dia. Em respeito, cuida de ouví-las de igual modo. Seu silêncio é ensurdecedor. É natural ser ouvidos e voz. Inteligente mesmo é ser menos voz. Pra ver o mundo todo conectado e sentir-se tão à vontade como é de fato de interesse do Universo.
sábado, 3 de julho de 2010
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Se desprender do que não serve.