Enquanto durmo crianças nascem.Do outro lado da rua, enfrente minha janela.
Passarinhos me acordam pela manha, já não ouço a contingencia dos carros e as bruscas freadas que parecem gritos histéricos de desespero frente ao quebramolas.
Um dia iluminado hoje. Céu claro e o Sol caprichando aqui no litoral sul da Bahia. Domingo vai dar onda e eu não vou ficar trancada, parada nesse quarto do apartamento.
Ser com o dia! Ser com a água salgada e os seres vivos presente.
Agora palavreio, leio mais que isso. Percebo um sopro vívido preenchendo minha respiração e embalando meus cabelos. É você chegando para mais um afago do dia.
Sei que agora dorme, por aqui crianças continuam a nascer, ora morrer... e está a sentir as brisas do sul convidando-o a celebrar a vida, o amor. Sentes os carinhos com amor, os desejos e declarações de amor, ouve a canção preparada por mim e dorme em meu peito.
Eis um problema para a Fenomenologia, descrever a saudade tal como ela é. Como pensar em essência da saudade se por si só a palavra gera o sentimento. Sei explorar o denso conteúdo da saudade, e reviver as recordações que invoco para auxiliar o pensamento e evitar que a saudade seja fogo consumidor de sentimentos.
Tomo um fósforo. Queimo com isto a resistência de permanecer no caminho. Sem família, amigos e todo o conforto de alguma familiaridade que a cidade possa ter. "Ame seu irmão." Diz a música que ouço agora. Precisamos amar. Me apego tão somente aos cenários que a natureza varia com seu ineditismo desde gênese. Poesia está aí. E não aqui preso no corpo do desenho das palavras.
Olho o céu e só vejo azul. E é de uma profundidade transcendente.
Vaguei poesia em meio a esboços. Fiz um prato frio e tomarei uma cerveja assim que ambos resfriarem do calor do dia.
Enquanto isso a maternidade a ejetar crianças.
Te contarei um segredo: a vida dói muito se passa por você e não você por ela.
Dói de desaventura, de quietude...
Vou
voar
e
volto.